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17 maio 2010

Visitar a Igreja de São Salvador - Carrazeda de Ansiães

A igreja de S. Salvador, localizada na Freguesia de Carrazeda de ansiães, constitui um raro e notável exemplo da arquitectura românica. A sua fundação deve remontar ao século XII e julga-se que o seu primitivo orago terá sido S. Pelágio. Em 1431 encontrava-se arruinada, mas em 1447 procedeu-se à sua reconstrução e, embora o gótico fosse então o estilo dominante, foi com as primitivas formas que foi reedificada. Com o declínio e abandono da vila de Ansiães, a igreja foi igualmente abandonada e ficou em ruínas. Entretanto restaurada, constitui um dos principais motivos de interesse do concelho de Carrazeda de Ansiães.
Trata-se de um templo de planta longitudinal composta por uma nave única e capela-mor, tendo no exterior, do lado direito, uma capela funerária rectangular. A fachada principal, orientada a oeste, apresenta no portal um dos mais importantes exemplos da gramática escultórica do românico português (ver imagem acima).
Este é constituído por quatro arquivoltas plenas, assentes em oito capitéis com decoração zoomórfica e antropomórfica, que enquadram o tímpano de figuração mais canónica de todo o românico nacional: apresenta-nos o Cristo em Majestade, rodeado pelo tetramorfo, representado com alguma liberdade mas com os símbolos dos evangelistas nas posições hierarquicamente correctas: o anjo de S. Mateus (à direita) e a águia de S. João , acima, respectivamente, do touro de S. Lucas e do leão de S. Marcos, ambos alados. No seu conjunto seguram a mandorla mística, dentro da qual Cristo se encontra entronizado, na convencional posição de bênção, mão direita erguida com os dedos indicador e médio esticados, enquanto a mão esquerda segura o Livro Sagrado. Rodeando o tímpano, na segunda arquivolta do portal, estão representados os apóstolos, embora de forma incompleta, pois apenas se encontram nove, dois dois quais facilmente identificáveis pelos seus atributos: S. Pedro e S. Paulo. Mais problemática é a identificação das duas personagens em ambos os lados do arranque desta arquivolta: do lado esquerdo teremos talvez Judas, carregando ao colo o demónio, o preço da sua traição a Cristo; do lado oposto aparece-nos um ancião, numa escala superior a todas as outras figuras, e transportando um livro de formato quadrado. Será talvez Moisés, e o "livro", as Tábuas da Lei. Esta arquivolta delimitaria assim um percurso simbólico, que vai desde o percursor dos Mandamentos ao percursor da Paixão de Cristo, que não é mais que o primeiro passo para a salvação da humanidade.
A fachada lateral do lado direito possui duas frestas para iluminação, quase junto à cornija, e uma porta de arco pleno com decoração de palmetas / dentes de serra. Os capitéis são decorados com "corações invertidos". O tímpano ostenta uma cruz pátea vazada, sendo o vão ornado com vários lóbulos. Numa massa sensivelmente avançada da capela-mor, abre-se um arcossólio de arco quebrado sobre um capitel de motivo vegetalista.
A fachada do lado esquerdo mostra indícios de ter tido uma outra construção adossada a ela. Mostra igualmente duas frestas e uma porta que, como decoração, só possui uma cruz pátea vazada no tímpano. As fachadas laterais apresentam em toda a sua extensão uma cachorrada, com alguns cachorros decorados com motivos zoomórficos.
No interior a ligação da nave à capela-mor é feita por um arco triunfal pleno com decoração de palmetas, apoiado em impostas cordiformes. Na nave existe um pequeno núcleo museológico, onde se incluem fragmentos do pelourinho de Ansiães e estelas sepulcrais decoradas com símbolos solares, cruzes de Malta e Templária e estrelas judaicas.
No exterior, adossada ao lado esquerdo da fachada principal, temos a capela funerária de N. Sra. da Graça, panteão da família Sampaio, que alberga, sob arcossólios ogivais, quatro túmulos medievais, de granito, com tampas de duas faces. É também uma obra românica, em silhares de granito, medindo 4x3 metros. A entrada para a capela faz-se por uma porta lateral em arco perfeito, com tímpano reentrante, onde se inscreve uma cruz pátea, a qual constitui a única decoração. Esta capela não tem cobertura.

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